Mudanças climáticas (e não o El Niño) causaram seca recorde na Amazônia
A mudança do clima, decorrente da ação do homem está por trás da seca na Amazônia em 2023. A afirmação é de um relatório divulgado nesta semana pelo World Weather Attribution (WWA).
Os cientistas identificaram que o aquecimento global tornou a seca que atingiu a região 30 vezes mais provável. Além disso, o aumento das temperaturas foi determinante para a intensidade e extensão do episódio.
O documento foi elaborada por uma equipe internacional de 18 cientistas climáticos de universidades e agências meteorológicas do Brasil, Dinamarca, Reino Unido e Países Baixos.
Segundo os pesquisadores, os conjuntos de dados analisados indicam que o evento ‘excepcional’ e ‘devastador’, como o ocorrido no ano passado em larga escala, poderia ocorrer a cada 350 anos.
Bem como a probabilidade de ocorrência de seca meteorológica aumentou em dez vezes. Além disso, enquanto a seca agrícola aumentou em 30 vezes. Sem os efeitos da mudança do clima, a seca poderia ser classificada como ‘severa’, e não ‘excepcional’.
Como a pesquisa foi feita
Os pesquisadores utilizaram dois índices para caracterizar o evento extremo de seca.
- O Índice Padronizado de Precipitação (IPS), que considera apenas a precipitação e é usado para medir a seca meteorológica; e
- Índice Padronizado de Evapotranspiração de Precipitação (SPEI), que considera a precipitação e evapotranspiração (a evaporação da água das plantas e dos solos provocada por alta temperaturas) que mede a seca agrícola e reflete melhor os impactos humanos da seca.
Seca na Amazônia e o El Niño
A modelagem estatística também foi usada para compreender a influência do El Niño na seca histórica.
Os pesquisadores identificaram que o El Niño, o aquecimento superficial das águas equatoriais no Pacífico, e as mudanças climáticas reduziram a quantidade de chuvas aproximadamente na mesma proporção. Ou seja, o fenômeno teve um impacto muito menor.
Assim, na avaliação professora de oceanografia física e clima da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que integra o grupo que elaborou a análise de atribuição, Regina Rodrigues, as altas temperaturas foram determinantes para exacerbar a seca na maior floresta tropical.
“A temperatura foi fator primordial, não foi apenas déficit de chuvas. Assim, as altas temperaturas tiveram um papel importante nessa seca e estão atreladas a mudança do clima”, explicou um um comunicado.
Além disso, o novo estudo confirma o que pesquisadores brasileiros já haviam sinalizado no ano passado de que o fenômeno El Niño não era o principal fator de pressão sobre a seca na região.
Dessa forma, à época, o calor também foi apontado como principal hipótese pelo aquecimento da água do lago Tefé, o que provocou a morte de centenas de botos e tucuxis.
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