Afinal, existe dor psicológica?

Você tem aquela dor nas costas que nunca vai embora? Que já se tornou parte do seu dia e o obrigou a conviver com ela? Se sim, você já deve ter ouvido, em algum momento, a frase “essa dor é psicológica”. 

Vale aqui um disclaimer: toda dor deve ser acompanhada, já que cada caso é um caso. Há inúmeras razões pela qual uma dor pode se manifestar. Mas, uma dessas razões, como dito acima, está ligada à mente.

Pelo menos é para isso que aponta uma pesquisa publicada na revista científica JAMA Psychiatry. Ela descobriu que dois terços dos pacientes com dor crônica nas costas que passaram por um um tratamento psicológico de cerca de um mês, ficaram quase sem dor. A maioria deles ficaram ‘curados’ após um ano do início da terapia. 

O líder do estudo, Yoni Ashar, cientista que conduziu a pesquisa enquanto fazia seu doutorado na Universidade do Colorado, nos EUA, explicou sobre o tratamento em um comunicado. A técnica é baseada na premissa de que o cérebro pode gerar dor na ausência de lesão ou após a cicatrização de uma lesão — e que as pessoas podem desaprender a conviver com essa dor. 

Para o ensaio clínico randomizado — tipo de pesquisa onde os grupos utilizados no experimento têm integrantes escolhidos de forma aleatória — os pesquisadores acompanharam 151 homens e mulheres. Eles tiveram dores nas costas por pelo menos seis meses em uma intensidade de pelo menos quatro em uma escala de zero a 10.

Quem estava no grupo de tratamento completou uma avaliação seguida por oito sessões de uma hora de Terapia de Reprocessamento da Dor (PRT, sigla em inglês), uma técnica desenvolvida pelo psicólogo Alan Gordon. O objetivo era educar os pacientes sobre o papel do cérebro na dor crônica, para que pudessem reavaliar o incômodo junto ao medo e as emoções. 

Anteriormente, uma pesquisa desenvolvida no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP) também avaliou a dor lombar como tendo ligação com o psicológico. A autora, Nathália Augusta de Almeida, analisou que os fatores psicológicos, como o desamparo, desempenham um papel de grande importância no desenvolvimento da dor na região lombar. Segundo ela, “não adianta apenas operar ou medicar. Devemos considerar os aspectos biológicos, psicológicos e sociais”, explicou, em comunicado.

Não é coisa (só) da sua cabeça 

Os caminhos neurais — locais em que algumas regiões do cérebro são conectadas entre si ou transmitem informações do sistema nervoso periférico para o órgão — normalmente apresentam falhas. E são essas falhas, extremamente sensíveis, as responsáveis por transmitir e reagir a estímulos leves, causando a ‘dor’. 

A dor primária, como é conhecida, acomete 85% das pessoas. De acordo com Ashar, se a dor é um sinal de alerta de que algo está errado com o corpo, a dor crônica primária, explicou ele, é “como um alarme falso preso na posição ‘ligado’”.

Antes e depois do tratamento feito pela Universidade do Colorado, todos os pacientes foram submetidos a uma ressonância magnética funcional, para medir como o cérebro deles reagiram a estímulos leves de dor. Após o tratamento com a RTP, cerca de 60% do grupo que utilizou a técnica estava sem dor, em comparação com 20% que recebeu placebo e 10% do grupo que não recebeu nada.

Essas descobertas são importantes para aqueles que querem viver sem dor, ou conviver com ela parcialmente, segundo os autores do estudo.

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Para Almeida, pesquisadora do Instituto de Psicologia da USP, a dor ou acometimentos são vistos apenas do ponto de vista físico sem que os médicos levem em consideração os fatores psicológicos. “Acha-se que se opera e resolve”, explicou a pesquisadora. Mas ela aponta que a real demanda dos hospitais públicos e privados, são equipes multidisciplinares, que cuidam do paciente de uma forma geral — inclusive das questões psicológicas associadas a dores. 

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