Novo produto que confunde o olfato de insetos pode substituir pesticidas
Pesquisadores da Universidade de Lund, na Suécia, desenvolveram uma técnica para impedir a reprodução de pragas agrícolas. O novo produto é uma maneira mais barata de barrar a propagação dos feromônios sexuais via olfato, o que atrasa a reprodução desses insetos.
Essa técnica já existia, mas era tão cara que ficava restrita às plantações de maior valor, como de frutas, por exemplo. Após 10 anos de estudo, os pesquisadores encontraram como “barrar” o cheiro das fêmeas usando plantas oleaginosas, como castanhas e amendoins – o que torna tudo mais acessível e também sustentável.
Em artigo publicado em setembro na revista científica Nature Sustainability, os pesquisadores mostram que conseguiram produzir quantidades significativas de dois importantes feromônios de mariposa.
Nos testes, os produtos químicos foram capazes de interromper o acasalamento da lagarta do algodoeiro, inseto que destrói rapidamente plantações de algodão. O tratamento funciona porque “encobre” o cheiro das fêmeas, que atraem parceiros a centenas de metros de distância apenas com feromônios.
“Podemos aplicar compostos de feromônios artificiais no campo, que serão liberados em todo o ar e cobrirão o sinal original da fêmea real”, explicou Hong-Lei Wang, o principal autor do estudo, à revista Wired.
Essa cobertura do cheiro sexual dificulta o caminho dos machos até as fêmeas e, por tabela, reduz as chances de acasalamento. Assim, a população de insetos diminui, o que significa menos pragas para causar danos às plantações.
Produto não mata os insetos
“Confundir” os feromônios não mata as pragas, mas influencia em seu comportamento. Por isso, esses produtos são mais ecológicos que os pesticidas, que muitas vezes acabam com outras espécies que não estão no alvo do tratamento.
No caso do olfato, os insetos distinguem os sinais da própria espécie, o que significa que o cheiro pode ser direcionado para pragas específicas. Enquanto isso, outros pequenos animais têm o ciclo inalterado.
Além disso, esses produtos não são tóxicos para os seres humanos como os pesticidas, que ficam no solo, ar e água mesmo depois do uso. Isso prejudica desde plantas e animais maiores até microrganismos e insetos que ajudam o meio ambiente, como abelhas, aranhas e ácaros.
Outro benefício é que os insetos não desenvolvem resistência aos próprios sinais de comunicação. É diferente dos pesticidas, que o uso repetido pode levar à adaptação das pragas.
Ainda assim, há limitações. Nem todas as pragas agrícolas têm feromônios sexuais, por exemplo. Muitas espécies produzem compostos complexos que não são tão fáceis de reproduzir em laboratórios.
Outro desafio, agora, é a entrada no mercado. Ainda é preciso que órgãos reguladores aprovem o mecanismo, o que demanda um processo longo e burocrático. Mas, quando isso acontecer, a expectativa é que o produto se popularize para proteger grandes commodities, como cana e soja.
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