Além de anéis, James Webb encontra gelo de água em asteroide incomum
A NASA anunciou que o Telescópio Espacial James Webb detectou sinais claros de gelo de água em um pequeno, distante e incomum asteroide batizado de Chariklo. Há alguns anos, o objeto já tinha chamado a atenção por ter sido o primeiro corpo rochoso encontrado no Sistema Solar a contar com um sistema de anéis duplos ao seu redor – descoberta esta feita por um astrônomo brasileiro.
O asteroide de apenas 250 km de largura está localizado a cerca de 3 bilhões de quilômetros da Terra, além da órbita de Saturno. Apesar de pequeno, os pesquisadores aproveitaram que o asteroide ocultaria uma estrela distante para estudar com mais detalhes o astro através das lentes do James Webb.
Em 18 de outubro do ano passado, Chariklo e seus anéis passaram na frente de uma estrela – catalogada como Gaia DR3 6873519665992128512 – gerando uma espécie de “eclipse”. O anel duplo criou uma pequena redução no brilho da estrela durante a passagem, confirmando mais uma vez a sua existência.
Além disso, ao estudar as curvas de luz solar refletidas por Chariklo – antes, durante e depois da ocultação –, os astrônomos conseguiram coletar mais dados sobre a espessura, tamanho e cores dos anéis, além da presença de pequenas partículas de gelo de água misturadas com algum tipo de material escuro.
A presença desses anéis ainda é um mistério, mas acredita-se que eles foram formados a partir de alguma colisão com outro asteroide. A nuvem de detritos gerada pelo impacto deve ter entrado em órbita e evoluído até formar o sistema de anéis atual – distantes cerca de 9 quilômetros um do outro. Até então, anéis foram vistos apenas ao redor dos planetas gasosos Saturno, Júpiter, Netuno e Urano.
O anúncio dos anéis ocorreu em 2014, por uma equipe de pesquisadores internacionais liderada pelo brasileiro Felipe Braga Ribas, do Observatório Nacional. A descoberta foi feita por meio de sete observatórios terrestres na América Latina, incluindo no Brasil, e também utilizando a técnica da ocultação. Para a surpresa dos pesquisadores, a estrela piscou duas vezes antes de desaparecer atrás de Chariklo, e mais duas vezes quando a estrela ressurgiu. Esse piscar foi causado pelo “eclipse” provocado pelos dois anéis.
Na época, Ribas sugeriu que, o fato desses detritos estarem muito confinados e alinhados, era um indicativo que o asteroide também poderia ter um pequeno satélite ao seu redor, ajudando a manter gravitacionalmente a forma dos anéis. “É provável que Chariklo tenha pelo menos uma pequena lua ainda esperando para ser descoberta”, disse o brasileiro em comunicado.
Segundo o Observatório Nacional, foi proposto à IAU (União Astronômica Internacional) o batismo dos anéis como Oiapoque, para o mais largo, enquanto o outro como Chuí, em referência aos nomes das cidades que estão em lados extremos do Brasil.
Apesar de a presença de gelo de água em Chariklo já ter sido teorizada antes, essa é a primeira confirmação direta e clara de sua existência, graças à alta sensibilidade dos instrumentos do James Webb. A nova pesquisa foi conduzida pelo astrônomo Pablo Santos-Sanz, do Instituto de Astrofísica da Andaluzia em Granada, na Espanha, mas ela ainda não foi publicada, necessitando que o estudo ainda seja revisado por pares.
Esta foi a primeira vez que o James Webb foi utilizado para fazer estudos por meio de uma ocultação. A nova pesquisa utilizou o instrumento NIRCam (sigla em inglês para “Câmera de Infravermelho Próximo), demonstrando que é possível usar o telescópio espacial para explorar pequenos objetos do Sistema Solar.
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