CTC-USP anuncia que paciente com câncer tem remissão total um mês após terapia celular
Paulo Peregrino tem 61 anos e faz tratamentos contra o câncer há 13. Em abril, ele começou uma terapia nova pela rede pública de saúde de São Paulo. Em um mês, veio a surpresa: o paciente, então sob cuidados médicos do Hospital das Clínicas, recebeu alta no último domingo (28) após apresentar remissão completa do linfoma.
Paulo recebeu a terapia CAR-T cell. Trata-se de um tratamento que envolve a edição genética de células T, do sistema imunológico. A produção destas células modificadas é complexa e custa em torno de R$ 2 milhões por paciente – motivos pelos quais o tratamento não é acessível na maioria dos países.
Mas o Centro de Terapia Celular (CTC) de Ribeirão Preto, em São Paulo, desenvolveu uma versão brasileira dessa tecnologia e vem realizando o procedimento como parte de um estudo clínico sob supervisão da Anvisa. O primeiro tratamento bem-sucedido aconteceu em 2019, e Paulo é um dos últimos pacientes a recebê-lo.
Ao todo, 14 pessoas com câncer foram tratadas com a terapia em estudo CAR-T cell na rede pública do estado de São Paulo. O resultado: 69% dos pacientes tiveram remissão completa da doença em 30 dias, e todos tiveram remissão de ao menos 60% dos tumores.
Entenda o estudo
O procedimento está acontecendo de forma compassiva: o estudo aceita o paciente em estágio avançado do câncer, e os médicos do CTC obtêm autorização com a Anvisa para realizar a terapia. A recuperação dos pacientes acontece pelo SUS.
Dimas Covas, coordenador do CTC, explicou ao G1 que o grupo precisa obter financiamento para realizar o tratamento em, pelo menos, 75 pacientes com linfoma e leucemia. Isso deve acontecer no segundo semestre deste ano, e os dados clínicos destes procedimentos podem permitir o registro do produto na Anvisa.
A equipe envolvida no estudo fez uma parceria em 2021 com o Instituto Butantan. O resultado foi a instalação de uma fábrica na Cidade Universitária, em São Paulo, além da fábrica existente no campus universitário da USP de Ribeirão Preto. Elas representam a capacidade de produção inicial de 300 tratamentos por ano.
O estudo é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Hoje, o Brasil é o único país a utilizar a terapia na América Latina.
Como é a terapia CAR-T cell
A terapia funciona da seguinte maneira: células T são retiradas do paciente em questão e levadas para o laboratório, onde são modificadas geneticamente. Os cientistas editam as células T (T cell, em inglês) de maneira a fazê-las produzir uma molécula chamada receptor de antígeno quimérico (CAR, na sigla em inglês). Daí o nome CAR-T cell.
As células T modificadas são devolvidas ao paciente e passam a se reproduzir no organismo. Elas são especialistas em reconhecer as células cancerígenas e consequentemente poderiam ajudar o sistema imunológico paciente a combater o câncer com mais eficiência.
O método pode tratar três tipos de cânceres: leucemia linfoblástica B, linfoma não Hodgkin de células B e mieloma múltiplo. Por enquanto, o tratamento contra mieloma não está disponível no Brasil.
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