Conveniência: uso de apps faz brasileiros buscarem alimentos rápidos e práticos
Texto: Agência Bori
Os brasileiros comem cada vez mais fora de casa ou por delivery, e consomem mais alimentos ultraprocessados, congelados ou enlatados – as chamadas comidas de conveniência. Isso tem sido consequência do aumento da jornada de trabalho, inovações tecnológicas na produção e armazenamento de alimentos e redução do tempo para cozinhar. É o que aponta o pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em novo relatório lançado na quarta (21) pelo Grupo de Pesquisa em Sociologia das Práticas Alimentares (SOPAS).
No documento, Maycon Schubert discute a necessidade de pensar a alimentação como um processo que resulta de várias práticas que surgem em função das mudanças na rotina alimentar. A média de tempo dedicado para afazeres domésticos (incluindo cozinhar) de pessoas ocupadas no Brasil é em torno de 18,5 horas semanais para mulheres e 10,4 para homens, segundo dados do IBGE e pesquisas anteriores. Em 2001, esses números eram de 29 horas semanais para mulheres e 11 horas para homens. Ou seja, atualmente as mulheres têm 36,21% e os homens têm 5,5% menos tempo para os afazeres domésticos do que tinham há quase 20 anos atrás.
“A conveniencialização da alimentação é um conceito mais amplo que explica um processo social em curso, que é o do ganho de tempo e simplificação das dietas. Ele oferece uma análise mais integrada dos fenômenos sociais que têm modificado forte e rapidamente o sistema alimentar”, define Schubert.
A proposta do estudo é reconhecer que a alimentação se adaptou às novas necessidades e deixou de ser apenas um produto. “Uma análise como essa nos permite ir além da dicotomia de cozinhar do zero ou comprar a comida congelada e entender que a prática de cozinhar envolve diferentes graus de conveniência da comida. É possível comer bem e de forma rápida uma comida congelada, desde que seja nutricionalmente adequada e esteja disponível”, esclarece.
Além disso, o pesquisador também discute os efeitos das Dark Kitchens, modelo de negócio criado recentemente, com a ampliação e facilidade no uso de smartphones. “A principal característica da Dark Kitchen é que o seu funcionamento, na maioria dos modelos de negócios, ocorre sem a presença física dos consumidores, ou seja, as vendas e negociações são feitas somente através das plataformas digitais ou, ainda, em parceria com restaurantes tradicionais que, praticamente, terceirizam a cozinha. Um caso emblemático é o restaurante IT Burger, na Cidade do México, criado em 2018, que ficou famoso sem que ninguém soubesse a sua localização”, relata o pesquisador.
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